terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

UM DOS MAIORES PROBLEMAS DO TRÂNSITO: EXCESSO DE VEÍCULOS


Frota de veículos cresce 119% em dez anos no Brasil, aponta Denatran
O total de veículos no país mais que dobrou nos últimos dez anos e atingiu 64,8 milhões em dezembro de 2010, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).


Para neutralizar as emissões de gás carbônico da frota, o Brasil precisaria aumentar em mais de 11 vezes a cobertura de Mata Atlântica atualmente existente no território nacional, de acordo com cruzamento de dados do Denatran realizado por pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB).
O balanço do Denatran aponta que o Brasil fechou 2010 com exatos 64.817.974 veículos registrados. Em dez anos, o aumento acumulado é de 119%, ou seja, mais 35 milhões de veículos chegaram às ruas no período. Segundo o órgão, essa seria a frota circulante no país e considera carros, motos, caminhões e outros tipos de automotores inseridos no cadastro desde 1990. Os dados do Denatran não desconsideram, por exemplo, eventuais proprietários que registraram o veículo, mas deixaram de circular e não deram baixa no registro. Com base no número absoluto divulgado pelo órgão, foi realizado - a pedido da reportagem - uma projeção do total de gás carbônico (CO2) emitido pela frota durante um ano.
A estimativa é do professor Genebaldo Freira, pesquisador e Diretor do Programa de Mestrado e Doutorado em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB). Ele explica que, "para fins de estimativa (resultado aproximado, fins pedagógicos) considerou-se que cada veículo roda, em média, 50 km/dia; que o combustivel majoritário é o gasol (mistura de gasolina e álcool) e que a média de emissão é de 150 g CO2 por km rodado". Com essas variantes, o pesquisador aponta que a atual frota emite anualmente 171,1 milhões de toneladas de CO2. "Seriam necessários 945 mil quilômetros de Mata Atlântica para neutralizar essas emissões (caso a frota toda estivesse rodando). Isso representa 11,1 % da superfície do País", comenta o professor. "Obviamente não temos essa biomassa disponível para efetuar esse trabalho. Logo, grande parte dessas emissões vai se juntar às outras e aumentar a concentração do CO2 na atmosfera", comenta o professor. Atualmente, de acordo com dados da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, esse tipo de floresta ocupa apenas 1% do território brasileiro.

Um carro para cada 2,94 habitantes
 Considerando o resultado do Censo IBGE 2010, que indica que a população é de 190,732 milhões, o país tem uma media de um carro para cada 2,94 habitantes. O aumento na frota de veículos foi significativo também no período de 12 meses. Entre 2009 e 2010, as ruas brasileiras ganharam 5,456 milhões de carros, um crescimento de 9,19%. O aumento nos registros superou a produção do setor: em 2010, a indústria automobilística produziu 3,638 milhões de veículos, número considerado recorde. Cidades Segundo o Denatran, há carros licenciados em 5.567 cidades do país. As cidades no topo do ranking de veículos são São Paulo (6,390 milhões), Rio de Janeiro (2,063 milhões), Belo Horizonte (1,340 milhões), Curitiba (1,247 milhões) e Brasília (1,245 milhões).
De acordo com o levantamento do Denatran, a cidade de Afuá, no Pará, é cidade do país com o menor número de carros. Seriam apenas quatro para uma população de 35.017 pessoas, segundo o censo do IBGE em 2010. Entretanto, na cidade não circula nenhum carro. O secretário municipal de meio ambiente de Afuá, Altemis Fernandes Monteiro, explica que a cidade, localizada no arquipélogo do Marajó, é toda construída sobre palafitas. A maioria de madeiras. “Não existe nenhum carro aqui. Os quatro devem ser carros da administração que circulam em Macapá e Belém para serviços administrativos”, disse. “O único meio de transporte aqui é a bicicleta. Deve ser a única cidade do país sem carros”, avalia o secretário. A cidade já foi destaque em reportagem do Jornal Hoje pela utilização da bicicleta como táxi.

Ranking dos estados
A lista dos estados brasileiros, de acordo com o tamanho da frota, segue a seguinte ordem: São Paulo (20.537.980 milhões), Minas Gerais (7.005.640), Paraná (5.160.354), Rio Grande do Sul (4.808.503), Rio de Janeiro (4.489.680), Santa Catarina (3.414.195), Goiás (2.428.705), Bahia (2.308.978), Pernambuco (1.774.389), Ceará (1.711.998), Espírito Santo (1.262.848), Distrito Federal (1.245.521), Mato Grosso (1.173.125). Outros 14 estados somam frotas que não ultrapassam o total de 1 milhão de carros. São eles: Mato Grosso do Sul (972.529), Pará (969.667), Maranhão (796.083), Rio Grande do Norte (731263), Paraíba (698.556), Piauí (582.777), Rondônia (561.811), Amazonas (530.814), Alagoas (438.788), Sergipe (427.048), Tocantins (394.628), Acre (151.320), Roraima (125.451), Amapá (115.323). Os dados nacionais ainda não consideram o primeiro mês de 2011. Entretanto, em São Paulo, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) divulgou que o total de veículos registrados até o dia 31 de janeiro era de 6,973 milhões. Em todo o estado chegavam a 21,672 milhões.

Na última década, governo incentivou o uso de carros
Madrugada de quinta-feira última no terminal rodoviário de Ceilândia Norte. O relógio marca 5h15 e a estoquista Edilene Rodrigues Monteiro, 28 anos, já espera o ônibus que a levará para o trabalho, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA)
Na bolsa, ela carrega um sapato para usar quando estiver no serviço. É que, de casa até o ponto, a trabalhadora anda cerca de 15 minutos por uma via não pavimentada do Setor O. O coletivo deixa a garagem às 5h30. Edilene embarca e inicia seu calvário diário. Por sorte, ainda consegue um assento no coletivo, que sai praticamente cheio. Cinco paradas depois, todos os espaços do veículo são ocupados. Até as escadas e a área sobre o motor do ônibus são tomadas por passageiros. Edilene consegue chegar ao seu destino uma hora e meia depois e, no fim do dia, leva o mesmo tempo na volta para casa. Considerando sua jornada de segunda a sexta-feira, a estoquista passa 15 horas por semana dentro de uma condução barulhenta e desconfortável. No ano, são cerca de 30 dias.
Edilene está entre as 600 mil pessoas que sofrem diariamente com o sistema de transporte público na capital do país. Na última década, o governo se preocupou mais em criar condições para facilitar a vida dos motoristas de carros do que em investir em transporte de massa. De 2001 a 2010, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) aplicou R$ 774,5 milhões em obras de duplicação de rodovias, construção de viadutos e pavimentação, montante quatro vezes maior que os recursos destinados  ao metrô — R$ 184,7 milhões. Em igual período, a população do DF ganhou 418 mil novos moradores, enquanto o crescimento da frota de ônibus foi de apenas 570 veículos novos.
Com a mentalidade atrasada, Brasília dá, a cada dia, mais sinais de que continuará na contramão do que pregam os especialistas do setor, unânimes em afirmar que, no DF, gasta-se muito com soluções paliativas. Sem um transporte público eficiente, os brasilienses investem pesado na compra de carros, entupindo as vias, como o Correio mostrou ontem.
 E a ampliação das pistas, como a Estrada Parque Taguatinga (EPTG), pouco resolve o caos. Segundo o pesquisador do programa de pós-graduação em transportes da Universidade de Brasília (UnB) Artur Moraes, o alargamento apenas reduziu o tempo entre dois engarrafamentos, mas, devido aos gargalos, os motoristas não conseguem trafegar em um trânsito que flua sem retenções. “Investiram-se milhões e o problema não foi resolvido. Hoje, ao longo da EPTG, o condutor não pega engarrafamento, mas sim no centro de Taguatinga e na altura da Octogonal. Resolver o problema do trânsito não tem efeito se o transporte público não for contemplado”, frisou Artur.

Rapidez
A insatisfação da estoquista Edilene em ficar tanto tempo no ônibus é compartilhada por quase todos os usuários do sistema. Estudo realizado em 2010 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que 32,7% dos brasileiros apontam a rapidez como o fator que mais influencia na escolha do meio de transporte. O segundo item mais citado é o preço (14,8%). Agradar a maioria dos usuários do DF, sem necessariamente gastar milhões, seria simples se as autoridades do setor voltassem os olhos para Curitiba. Na capital do Paraná, foi implantado, recentemente, o chamado “Ligeirão”. Trata-se de um ônibus que atravessa toda a cidade sem fazer paradas, proporcionando ao passageiro chegar quase meia hora mais cedo que os coletivos convencionais. Para quem deseja descer nos pontos entre os dois extremos, também existe opção. Outros itens que fazem o transporte público de Curitiba ser considerado o melhor do Brasil são os 82 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus, além dos 13 municípios do Estado que têm a rede integrada ao custo de R$ 2,20 por bilhete.
Segundo o diretor de transportes da unidade de Urbanização de Curitiba (Urb), Lubomir Ficinski, a mentalidade adotada na região é a de evitar obras. “Em vez de construir uma via, optamos por usar uma avenida central e duas laterais para ônibus. O custo relativo é muito menor”, disse.
Por todos os cantos do DF, sobram reclamações. Uma volta pelas cidades mais afastadas do Plano Piloto revela a precariedade dos serviços prestados. No Recanto das Emas, as paradas ficam sempre cheias pela manhã. Em pouco mais de meia hora de observação no último ponto da cidade, nenhum ônibus passou com assentos disponíveis. A situação no terminal rodoviário da região é ainda mais deplorável. O local não é pavimentado, os banheiros são sujos e a fiação do local fica exposta.
No entanto, nenhum outro lugar é tão criticado pelos usuários como a Rodoviária do Plano Piloto. No fim do dia, o local vira um formigueiro humano. Entre as 17h e as 20h, pelo menos 300 mil pessoas passam por lá. Com uma frota estimada em cerca de 2,9 mil coletivos, as empresas que operam as linhas do DF atendem no limite. Alguns passageiros chegam a ficar 40 minutos na fila até embarcar. Em muitos casos, só conseguem finalmente entrar na condução depois que um terceiro ônibus chega. “Às vezes, a fila está tão grande que saem dois ônibus lotados e a gente só consegue embarcar no terceiro. É uma falta de respeito muito grande com o trabalhador”, protestou o vendedor de marmitas Maurício Machado Santos, 31 anos, que, na última quinta-feira, quase não conseguiu entrar no coletivo com sua esposa, Elenice Oliveira, 31, e sua filha de 3 anos.


Fonte: Portal do Trânsito

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