terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ACIDENTE GRAVÍSSIMO NO ANEL VIÁRIO DE BELO HORIZONTE - CONTINUAÇÃO II...


"Choro todo dia", diz motorista
Através do advogado, caminhoneiro acusado de provocar as cinco mortes no Anel conta como está se sentindo e fala que está sendo vítima de injustiça

Há 17 dias, o caminhoneiro Leonardo Faria Hilário, 24, está trancado em uma cela. Denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) na última sexta-feira por homicídio com dolo eventual, Hilário pode ser o primeiro motorista de caminhão envolvido em acidente no Anel Rodoviário a enfrentar um júri popular. A pena, nesse caso, pode chegar a 20 anos de prisão.

O sul-matogrossense, morador de Mundo Novo, uma cidade de pouco mais de 16 mil habitantes, também estreia o rol dos condutores de veículos pesados que saíram da cena de uma tragédia direto para a cadeia. "Estou deprimido", disse a O TEMPO em resposta a uma série de perguntas que chegaram a ele por intermédio do advogado (veja abaixo a íntegra da entrevista).

As mortes das cinco pessoas - entre elas uma criança de 2 anos - provocadas no desastre do último dia 28 de janeiro parecem não sair da cabeça do caminhoneiro. "Choro todos os dias. Foi uma desgraça na minha vida. Nunca pensei que isso pudesse acontecer", disse.
Hilário ainda pôde receber a visita da mãe, com quem mora no Mato Grosso. Na cadeia, ele vive a expectativa de ter seu terceiro pedido de soltura analisado pela Justiça. Nos dois primeiros, não obteve sucesso.
Leonardo Hilário diz que está sendo injustiçado e vítima de "ataques pesados" da opinião pública. "Estou desprotegido demais. Quero responder o processo em liberdade. Meu advogado me falou que eu posso e tenho direito. Minha carteira é limpa".

Acusação. Para a polícia e o MPE, o caminhoneiro foi irresponsável e assumiu o risco de matar na rodovia ao conduzir o caminhão bitrem, carregado com 37 t de trigo, a 115 km/h, conforme revelou a perícia. "O que aconteceu foi imperícia. Ele não podia descer aquele trecho com tanta velocidade. Isso está bem fundamentado no inquérito. Tanto é que o Tribunal de Justiça negou em segunda instância o habeas corpus", afirmou a delegada Andréa Abood, da Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos (Deav).
A defesa de Leonardo Hilário vai entrar com um pedido de habeas corpus para o motorista no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ainda nesta semana. Os outros dois pedidos foram negados.

Líder da categoria acusa falta de ações
Para o presidente do Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, José Natan Emídio Neto, o motorista Leonardo Hilário foi "induzido ao erro" no trecho do bairro Betânia, onde ocorreu o acidente que matou as cinco pessoas no fim de janeiro.
O sindicalista avalia que a velocidade máxima no local deveria ser reduzida para 40 km/h. "O motorista estranho, de fora, aumenta o perigo. O cara está chegando de outro lugar, vê uma placa com quilômetro alto, não analisa que tem que parar lá embaixo porque tudo fica parado. Não é culpa dele".
O presidente do sindicato culpa as autoridades federais pela falta de ações que já foram reivindicadas pela categoria há mais de três anos. "Nós temos um documento no Dnit (Departamento de Infraestrutura de Transportes) de setembro de 2007 pedindo que a velocidade no Anel seja baixada para 40 km/h. Fomos ao Ministério Público também. Nada foi feito". (FMM)

MPE quer a ficha criminal do acusado
O Ministério Público Estadual (MPE) quer saber mais detalhes sobre a ficha policial do caminhoneiro Leonardo Hilário, 24, acusado de provocar o acidente que matou cinco pessoas no último dia 28, no Anel Rodoviário. O promotor Edson Baeta solicitou à polícia do Mato Grosso do Sul, onde o motorista nasceu, e também à Polícia Federal o histórico do suspeito.
O promotor explicou que os pedidos foram feitos para que o MPE se certifique do histórico criminal do acusado, uma vez que o advogado que o representa alega que ele é réu primário como uma das prerrogativas para que seja solto. (FMM)

Culpar freios é muleta, diz professor
A perda de freio, geralmente a justificativa dada pela maioria dos caminhoneiros envolvidos em acidentes, de acordo com o professor do curso de mecânica do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Caio Mota de Lima, é uma apenas uma "muleta".
O especialista explica que a perda de controle está ligada exclusivamente à velocidade dos veículos pesados. "Se fosse assim, as fábricas de freio deveriam fechar. No caso do Anel Rodoviário, no trecho do Betânia, se o caminhão estiver acima de 70 km/h, na descida, ele não consegue parar. E um caminhão como aquele bitrem, nem Deus para", afirmou.
O professor defende também uma experiência mínima de dez anos para conduzir uma carreta pesada. "Os motoristas que trabalham com carga pesada têm que ser treinados a usar o recurso que o caminhão tem. Se ele (Leonardo Hilário) fosse experiente, não estaria nessa velocidade", (FMM)

Entrevista com Leonardo Hilário Motorista da carreta que bateu no anel no dia 28
A polícia informa que você teria sido avisado por um colega de outro caminhão sobre os perigos no trecho do Anel. Você confirma isso?
Não. O Leandro (o colega) não me avisou nada sobre isso. O que eu disse, por rádio para ele, foi que eu estava bombando o freio e ele não respondia. Depois ele disse para eu tentar segurar porque tinha uma subida e o trânsito estava parado. Mas, antes de entrar ali, eu não fui avisado de nada.

Você descia com excesso de velocidade em um trecho com limite de 70 km/h. Você confirma o laudo da polícia que aponta os 115 km/h da sua carreta?
Não. Eu estava com uma velocidade normal sem nenhum excesso. O que aconteceu foi que, de repente, aconteceu uma pane no sistema de freio que parou de responder de uma vez só. Mas eu não estava com essa velocidade na hora que eu bati nos outros carros. Fui ganhando velocidade.

Você tem dois meses de experiência com carreta bitrem e outros três anos com veículos pesados. Você acha que a falta de experiência pode ter contribuído para o acidente?
Eu tenho experiência para conduzir o veículo que eu estava dirigindo. A prova disso é que nunca me envolvi em nenhum acidente e minha carteira não tem nenhuma pontuação. O problema não foi falta de experiência.

Fonte: Jornal O Tempo 14/02/11

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