terça-feira, 17 de maio de 2011

O QUE PODE SER DITO NAS REDES SOCIAIS?

Estima-se que em 2012 as redes sociais ultrapassem a marca de um bilhão de usuários. O Brasil lidera o ranking, com 84% dos internautas navegando em páginas de relacionamento, segundo a consultoria Nielsen. Os dados mostram que Facebook, Orkut, Flickr, LinkedIn, YouTube e tantos outros são fiéis companheiros do brasileiro. Para as empresas, essa interação no ambiente on-line requer atenção. Ao mesmo tempo em que as redes sociais são aliadas dos negócios, elas exigem cuidado, porque um comentário impensado de um colaborador pode comprometer a imagem da companhia.

“As empresas precisam educar os funcionários para uso das redes sociais. Muitas já pensaram em proibi-las, mas é cada vez mais difícil, pois o funcionário pode citar a companhia ao acessar sua página de qualquer outro lugar. É necessário um trabalho de conscientização para que não haja prejuízos”, diz Marcos Morita, especialista em marketing e planejamento estratégico e professor da Universidade Mackenzie. Ele explica que o monitoramento das ações dos funcionários na internet é válido. A prática, no entanto, permite às organizações descobrirem atitudes indevidas somente depois de concretizadas. “A empresa pode até demitir o funcionário, mas ela perde o talento e, ainda assim, o dano foi feito.”

O especialista sugere o estabelecimento de regras para uso das redes sociais, semelhantes às políticas para uso do e-mail nas corporações. “As empresas se movimentaram anos atrás para ter códigos de conduta em relação ao e-mail. Agora, elas precisam fazer o mesmo em relação aos sites de relacionamento”, afirma Morita. Ele lembra que o e-mail, embora também possa ser replicado, tem menor potencial de disseminação se comparado a um post no Facebook, por exemplo, que pode ser lido e compartilhado simultaneamente por diversas pessoas.

Alguém se lembra do funcionário da Secretária de Cultura de São Paulo que, logo após o anúncio da morte do ex-presidente José de Alencar, perguntou no Twitter da instituição por que não havia sido o senador José Sarney? Ele explicou que, na verdade, ia postar na própria página e enganou-se com os perfis. O post foi apagado, mas pouco importa, porque foi visto e replicado por uma enormidade de veículos on-line Brasil afora.

Geração conectada

O episódio ilustra a necessidade de os funcionários aprenderem os limites do que pode ser dito nas redes sociais. E ninguém melhor do que as próprias organizações para informar o que consideram tolerável. “A empresa deve ter uma manifestação oficial sobre o que, para ela, seria o papel social do funcionário, pois uma palavra mal colocada gera um transtorno enorme”, diz Marcos Tuca Américo, pesquisador do Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã da Universidade Estadual de São Paulo.

Ele destaca a entrada dos jovens no mercado de trabalho – pessoas que lidam com a rede desde cedo e estão acostumadas à superexposição que ela propicia. “São indivíduos muito espontâneos que, muitas vezes, não têm a cultura de um ambiente corporativo”. O desafio está em explicar a esses jovens que eles não podem transferir para a empresa a mesma exposição que têm na vida pessoal. “Proibir o uso das redes não adianta. Ele pode acessar do computador do trabalho, mas certamente vai fazê-lo do celular, mesmo no horário do expediente. O que tem de ter são regras quanto ao uso. Trata-se de um investimento em educação”, diz o pesquisador.

Pode ser senso comum não falar mal do cliente, não usar o logo da empresa ou comentar sobre produtos da companhia. Reclamar do chefe, nem pensar. No ambiente on-line são várias as histórias como daquela funcionária britânica que foi demitida de tanto reclamar do emprego nas páginas de relacionamento. A questão passa também pelo alinhamento de valores entre empresa e funcionário. O estilista John Galliano, por exemplo, perdeu o posto de diretor criativo da Dior por conta de vídeos com declarações antissemitas. “As pessoas precisam entender que carregam um papel social enquanto funcionários”, diz Tuca.

Tudo às claras

Não dá para exigir que o funcionário saiba exatamente o que a empresa espera dele se o departamento de Recursos Humanos não tomar a iniciativa de comunicar e de disseminar os valores que norteiam a relação com as mídias sociais. “A conduta precisa ser definida. Se o RH não instruir, fica difícil a pessoa saber o que se espera dela”, diz Alexandre Hashimoto, professor de Sistemas da Informação das Faculdades Integradas Rio Branco. “Pegar casos aleatórios e mostrar como exemplos não orienta”, explica. O erro, nesse caso, é duplo: além de não orientar efetivamente o funcionário, a empresa usa como exemplo uma situação ocorrida em um ambiente que desconhece.

Os especialistas defendem que treinamentos bem elaborados e manuais de conduta sejam boas saídas para minimizar danos nesta época de superexposição. “Algumas empresas já têm essas ferramentas, mas esse grupo ainda é pequeno”, explica Tuca. Um exemplo é a Intel, que criou um manual detalhado, indicando princípios com os quais os colaboradores devem se orientar. Entre eles, estão o de não entrar em temas que fujam à área de atuação do profissional e o de nunca emitir uma opinião individual sobre uma questão relacionada à empresa. Para os funcionários que participam das páginas administradas pela própria empresa há, inclusive, um treinamento específico.

A Coca-Cola é outra que estabeleceu regras para seus funcionários ainda em 2008, ciente da velocidade com que uma informação, boa ou má, se propaga. “Instruir os funcionários a usar as redes sociais é uma questão de educação corporativa e precisa haver um ambiente continuado para o aprendizado. Os funcionários precisam ter dicas para agir, mas também precisam estar alinhados aos princípios da empresa, assim como os porta-vozes passam por media trainning para saber como proceder na divulgação de informações”, explica Tuca.

 Fonte: por Marina Gaspar e Lucas Toyama para http://www.canalrh.com.br

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