segunda-feira, 14 de março de 2011

MORTES NAS ESTRADAS


Educação no trânsito tem que ser permanente

Especialistas alertam que, além da precariedade na infraestrutura das rodovias e da falta de fiscalização, o Brasil carece de um programa permanente de educação dos motoristas para ajudar a reduzir acidentes

Diante do Carnaval mais violento nas estradas federais nos últimos oito anos, especialistas são unânimes em afirmar a importância de haver um programa educacional de trânsito permanente para os motoristas. Eles lembram que, na tentativa de conter a violência nas estradas a médio e a longo prazos, principalmente nos feriados prolongados, também são necessários uma punição mais rigorosa aos infratores, um maior investimento do poder público em infraestrutura nas rodovias e um aumento do efetivo no policiamento.
Eva Vider, professora da Escola Politécnica de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu rigor na realização das campanhas de conscientização no trânsito: "Hoje, os programas educacionais são muito deficientes. No papel, são ótimos. Mas não são implantados pelos governos. O que falta é a consciência, mais educação dos motoristas", ressaltou.
Para Marcus Quintella, professor de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas e de mestrado em Transportes do Instituto Militar de Engenharia (IME), as campanhas governamentais contra acidentes não podem ser pontuais, somente às vésperas de feriados, como o carnaval. Quintella criticou ainda a falta de fiscalização e de repressão das polícias nas rodovias: "Os motoristas dirigem com a certeza de que, se cometerem infração ou provocarem um acidente, vão apenas pagar multa, fiança e responder ao crime em liberdade. As mudanças, porém, não acontecem drasticamente, porque dependem de investimentos. Elas são a médio e a longo prazos", afirmou.

Fernando Pedrosa, ex-coordenador do Programa de Redução de Acidentes do Ministério dos Transportes, lembrou as péssimas condições das estradas federais e estaduais. Pedrosa, no entanto, reafirmou que as mortes ocorrem, em boa parte delas, pela imprudência. "O que mata mesmo é o excesso de velocidade, a bebida alcoólica e as ultrapassagens indevidas, além do cansaço do motorista. As normas claras e as leis específicas, o Brasil já tem. O que falta é a educação e a fiscalização permanentes. A sensação de impunidade também é grande e contribui para os acidentes. O Carnaval volta a ser o velho filme de terror. Só mudam os personagens de um ano para o outro", disse Pedrosa.
Gilberto Gomes Gonçalves, professor de engenharia civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), reforçou a questão da falta de infraestrutura: "O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e os governos estaduais não investem o necessário nas malhas rodoviárias, contribuindo, assim, para o péssimo estado de conservação".
"São necessárias campanhas corajosas em que as autoridades não tenham medo de mostrar o que é de responsabilidade delas, os acidentes", completou José Bernardes Felex, especialista em transportes e o professor da Universidade de São Paulo (USP), câmpus São Carlos.
Para Sergio Ejzenberg, consultor em transportes e perito em acidentes de trânsito, é preciso apertar a fiscalização: "A melhor maneira para reduzir acidentes a curto prazo é o respeito aos limites de velocidade e a não ingestão de bebidas alcoólicas". Ele acredita que, num segundo momento, o governo tem que aumentar os investimentos: "Estamos atrasados em duas décadas em tudo: educação, fiscalização, engenharia e também em emergência médica".
 
O médico Mauro Augusto Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, concorda: "Temos alguns instrumentos que não são aplicados de forma cabal. A legislação para coibir a direção sob efeito de álcool é boa, mas a fiscalização não é eficaz. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 30% dos motoristas sejam fiscalizados por ano, mas ficamos bem aquém disso", afirmou. Para o médico, o cerco aos motoristas que excedem os limites de velocidades também não é adequado. Ele critica a exigência de que haja placas com informações sobre a existência dos radares. "A multa é uma forma de se aumentar a percepção do risco que o motorista está correndo ao cometer a infração". 

Fonte: Cássio Bruno e Sérgio Roxo - Agência O Globo

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