sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

USUÁRIO DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO É CLIENTE?

Mesmo contribuindo financeiramente com grandes cifras, ao longo de anos, o usuário do transporte coletivo urbano não é tratado como cliente. Por que?

Por Nelson Gonçalves

A julgar pela falta de zelo, cuidado e qualidade no tratamento dispensado pelas empresas proprietárias de ônibus urbanos a resposta é não. São simplesmente passageiros. Ou seja: Passam e pronto! Nas estatísticas das empresas esses "clientes" são contabilizados aos milheiros/dia, semana, mês e ano sem levar em conta que o mesmo "cliente" vai e volta todos os dias, por anos a fio.

No encontro de contas para a distribuição do faturamento e avaliação de resultado dos caixas únicos as pessoas também são consideradas meros fatores percentuais. Empresários e entidades classistas se preocupam sobremaneira com realinhamento de rotas, tráfego por ruas densamente povoadas, tempo médio gasto nas viagens, número médio de passageiros por viagens, consumo de combustível, óleo lubrificante, pneus e outros componentes do veículo, mas não tenho conhecimento de uma única empresa que esteja verdadeiramente preocupada com o conforto, bem estar ou com qualidade no atendimento do seu maior capital. O cliente.

No Brasil quem depende do transporte coletivo urbano sofre de todas as maneiras. Sofre a humilhação por ser obrigado a viajar em ônibus lotados, paradas a cada quilômetro, mau humor de motoristas e trocadores, do desconforto das cadeiras - quando consegue viajar sentado -, da falta de rebaixamento nas portas de entrada e saída e do insuportável calor. Se o dia for chuvoso então o "buzão" vira sauna. Isso sem contar os condutores do chamado "transporte alternativo", verdadeiros vândalos do trânsito.

Fico pensando: Porque os ônibus urbanos não são equipados com ar condicionado a exemplo dos ônibus fretados ou de viagens? O cidadão já chega no trabalho aos frangalhos. Suado e amassado pelo calorão a bordo dos ônibus. Isso sem contar a situação insalubre a que são submetidos motoristas e cobradores. Se as empresas são permissionárias do poder público, porque vereadores e deputados não votam projetos de lei obrigando as empresas a equiparem seus veículos com ar condicionado?

Algumas empresas equipam meia dúzia de veículos com ar condicionado e, inclusive, fazem marketing disso, batizando os ônibus de geladão, gostosão, frescão ou outros apelidos que chamem a atenção do cliente, que obviamente aprova e prefere realizar suas viagens com mais conforto. Por que não equipar todos os veículos?

Dei uma boa pesquisada na Internet para saber às quantas andam os projetos obrigando as permissionárias a equiparem os carros com ar condicionado e o resultado é uma vergonha. Existe um projeto na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, mas o autor do projeto virou Secretário Municipal e o projeto parou. No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte também existem projetos tramitando nas casas legislativas, mas efetivamente nada de concreto sai do papel e vai para dentro dos ônibus. Nem mesmo na decantada Curitiba, onde jactam os administradores ser a cidade, sinônimo de transporte coletivo de qualidade os ônibus são equipados com ar condicionado.

E a questão da acessibilidade? Como é que um cadeirante entra num ônibus se eles não foram fabricados para quem tem dificuldade locomotora? Ta certo que aqui e acolá aparece um ônibus adaptado, é verdade, mas o cliente precisa ter paciência de Jó, sorte de ganhador da mega-sena e tempo sobrando para esperar um deles passar pela sua parada.

Um usuário que, todos os dias, utilize o transporte coletivo para ir e voltar do trabalho gasta nas catracas dos ônibus no mínimo R$ 100,00 por mês. Se fizer isso durante vinte anos, terá contribuído com R$ 24.000,00 para o caixa das empresas de transporte coletivo. Considerando que as pessoas ainda utilizam o sistema para deslocamentos adicionais como ir para a escola, cinemas, shoppings e outras tantas possibilidades a trabalho ou lazer a conta se amplia sobremaneira. Por esse raciocínio raso o usuário acima se iguala em investimento a um cliente de tv por assinatura. Com a diferença de não poder reclamar pela má qualidade do serviço que lhe é entregue.

A simples condição humana já seria suficientemente forte para responder à pergunta que dá título a esse artigo, mas olhando pelo prisma do faturamento que é o que move os negócios, o usuário é ou não um grande cliente? Então porque continua a ser tratado como se fosse bicho?

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